ㅤㅤㅤㅤㅤ L o o s eㅤT h o u g h t s

Feliz pelas janelas que não falam. Se dissesse, não gênio, te contaria que eu sei sim, no fim das contas, fazer sorrir. Não falo de gritos, do que não conheço, coisas idênticas. Talvez todas as grandes vias sejam iguais, se você reparar bem nas luzes – não estou falando de estrelas – será que você repara? (...) Pela primeira vez, basta o silêncio.

O ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais um vilão do cinema mudo proclamou-se vilão. Nem o idiota se diz idiota. Os defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos. Nunca vi um sujeito vir à boca de cena e anunciar, de testa erguida: - "Senhoras e senhores, eu sou um canalha!" Quando criança a única coisa com a qual eu conseguia sonhar era com o cinema. Acreditava que podia existir um mundo onde tudo era perfeito, os maus eram punidos, os bons recompensados, os cachorros falavam e realmente existiam fadas encantadas. Fui crescendo, e minha opinião tornou-se mais madura e menos esperançosa, agora eu sabia que os maus eram recompensados, os bons punidos, os cachorros morriam, as fadas não existiam e o mundo estava desconcertado. Agora eu entendia e concordava com Camões, embora também entendesse que eu podia mudar esse mundo (todo adolescente no fundo acha isso), pensava que se eu tivesse a chance de dirigir um filme, eu poderia ser alguém que abriria os olhos da humanidade para as questões que ela tão firmemente se opunha a ver, achava que eu podia retratar esse desconcerto, e que todos enfim tentariam mudar isso. Eu estava errada! Eu cresci, briguei, fiz amigos, inimigos, namorei, quebrei a cara, fui feliz e infeliz, sofri, chorei, sorri. Enfim eu vivi! Mais eu vivi cega para meus defeitos e para minha realidade, pois achei que se eu tivesse dinheiro conseguiria enfim realizar meu projeto de vida, e não enxergava que quanto mais eu me aproximava de ter dinheiro, mais eu me afastava do meu sonho, contraditório não?! Hoje depois de viver um roteiro escrito por terceiros, me vejo cada vez mais longe do que inicialmente queria, vou me formar numa carreira que rende bons salários mais talvez jamais consiga mostrar o mundo como ele é, desconcertado! Talvez jamais estude cinema como eu tanto sonhei. E é por todas essas reflexões que eu venho hoje dizer: - Senhoras e senhores eu sou uma canalha! E sou canalha porque desisti do que eu acreditava que era certo pra conseguir o que era “o melhor”, porque me mantive cega e inconfessa com relação aos meus desejos, aspirações e defeitos. Sou canalha porque tenho o melhor que eu posso e mesmo assim não me sinto completa, porque tenho medo de dar um passo que vá além do meu roteiro, tenho medo de me arriscar. Mais agora em especial sinto-me mais aliviada, pois tirei minhas mascaras e pisei no chão como nunca antes tinha feito. Hoje posso enfim dizer que estou num processo de reabilitação de mim mesma.

Uma ex-canalha (ou canalha, como queira) descansando da hipocrisia do mundo.

Publicar um texto é o meu jeito educado de dizer: "Me empresta seu peito, porque a dor não tá cabendo só no meu".

+ Follow